Hora de acordar


Cito Suely Caldas no Estadão de 23/9/2012:  Depois de quase dois anos sem um programa econômico nem definição de rumos para atrair o investidor privado, finalmente o governo Dilma Roussef despertou. E como quem desperta de um longo sono e descobre ter perdido muito tempo, Dilma deu um salto brusco da cama e bradou que quer e vai fazer. E rápido. Mas demora em encontrar o caminho certo.”
Caldas é uma das mais argutas analistas da catástrofe econômica sobrevinda com o lulopetismo.
Certo, catástrofe pode até soar como carga excessiva nas tintas negras com que nós que estamos atônitos, estupefatos e perplexos com Lulla do Mensallão e seu bando de incompetentes corruptos arcaicos (a ordem dos adjetivos não altera o negrume dos bandidos) descrevemos os últimos 10 anos de pilhagem do Erário e entropia administrativa.
Carakas, eu disse não 10 semanas. Não 10 dias. Dez anos! Já partindo para 11. Quase 11 anos de sono profundo em que nós belos adormecidos vimos sendo roubados e estuprados pelo príncipe encantado.
Colocando assim nesses termos, olhando assim em retrospectiva, fico abobalhado.
Como foi possível?
Suely Caldas diz que Roussef despertou dum longo sono.
Mas todos nós do lado civilizado do País também atravessamos a anomia lulopetista em brancas nuvens. No máximo nos beliscando para acordar do pesadelo.
Mas nem tudo foi letargia inútil. Pudemos tirar alguma lições.
A mais importante, em minha opinião, foi constatar que durante a administração de FHC não soubemos dar o devido valor aos avanços que auferimos sob seu o governo. E após 2002 não soubemos construir uma barreira eficiente contra a fúria difamadora com que Lulla do Mensallão partiu para cima do legado deixado por FHC, tentando dilapidá-lo a todo custo para lhe roubar os méritos. Quando o lulopetismo for enfim derrotado e o banditismo enxotado do Planalto, talvez saibamos cerrar fileiras incomplacentes em nome dos princípios democráticos e nos armar institucionalmente, mas com unhas e dentes, travando as portas do governo a aventureiros atarantados.
Outra grande lição foi ver que, passados esses 10 anos, o PSDB não aprendeu a ser oposição. (Assim como o PT não aprendeu, nem jamais aprenderá, a ser governo.) Eis que chegamos a 2012 tendo talvez em Geraldo Alckmin nossa única alternativa. Os tucanos não foram capazes de incubar em seu ninho novos líderes. Os mineiros que me perdoem, mas Aécio simplesmente não é confiável. Depois das inúmeras oportunidades que Lulla do Mensallão lhe deu para tirar a cabeça do buraco e denunciar as falcatruas do lulopetismo, o senador por Minas sempre optou por se mostrar um oposicionista acomodatício ou mesmo acumpliciado.
A terceira lição que o advento da anomalia lulomensallista nos ensinou foi verificar que não, não se tratou duma anomalia. Embora Lulla do Mensallão tenha flutuado de cima abaixo na vida nacional por quase 30 anos antes de atingir a Presidência da República, tempo mais que suficiente para que pudéssemos captar os sinais que ele e seu bando emitiam, falhamos estrondosamente em identificar o perigo. Por que digo que não foi anomalia? Porque o bando chegou ao poder pelas vias regulares, naturalmente. Falemos com todos os pingos nos is: grande parte da população prosseguirá sujeita ao assédio dos pilantras enquanto não tiver educação suficiente para distingui-los dos honestos.
A quarta lição foi podermos observar que um mero fisiológico, por mais larápio e por maior que seja sua voracidade por riqueza, nunca será tão nocivo quanto uma quadrilha motivada ideologicamente determinada a subverter a ordem democrática, sem medo de ultrapassar os limites republicanos e espezinhar a Constituição e com know-how para atacar o aparelho do Estado com uma capilaridade tal, que lhe permita infiltrar-se nos seus diversos níveis administrativos-governamentais até consolidar uma genuína nomenklatura.
E a última lição dentre as mais mais: as classes médias precisam aprender a valorizar a montanha de dinheiro que dão aos governos em forma de impostos. Entregamos aos órgãos arrecadadores quase metade de tudo que ganhamos! Para tal aprendizado, precisamos nos politizar, ou seja, desenvolver uma visão IDEOLÓGICA do sistema de governo que rege a organização social em nosso país. Devemos nos tornar militantes. Criar associações políticas que nos representem, nos unindo FISICAMENTE a outras pessoas que comunguem dos nossos ideias. E, quando for o caso, devemos estar preparados a ponto de nos atrevermos a sair às ruas e defender o modo de vida que queremos e almejamos para nossos filhos contra qualquer organização que pretenda impor arbitrária e ilegalmente sua hegemonia no STF, no Congresso e em qualquer outra instância representativa da nossa democracia.
Não temos defensores senão nós mesmos.