Fala sério, desconstruir "isso"?

Acabo de ler no Estadão um novo choramingo da menina dos paletozinhos vermelhos estilo Mao. Para ela, "a oposição só está empenhada em desconstruir a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para enfraquecê-la na disputa pela reeleição, em 2014..." etc. e tal.
Mas, presidenta, peraí, nós da oposição queremos desconstruir o que, exatamente? 




A sra. acha mesmo que precisamos? Mais ainda?
Afinal dificilmente seríamos capazes de rivalizar com o próprio em termos de eficácia e poder de autodestruição.
Nos últimos tempos o sr. Lula da Silva tem-se revelado o mais exímio autodesconstrutor da parada. Ou da paróquia, como gostava de dizer meu saudoso pai.
A partir de 2005, ano do espetacular mensallão, o sr. Lula da Silva vem-se aplicando magistralmente à sua faina de esfacelar a própria imagem.
Às vezes chego a me perguntar se o cidadão não desenvolveu —  sei lá, não sou perito nesses assuntos — algum tipo de mania neurótica que o obriga compulsivamente a se sacanear a cada dois ou três dias.
Não sei se a sra. sabe, excelentíssima presidenta deste meu Brasilzão que parece em vias de se tornar um vasto sanatório, os psicanalistas têm até um diagnóstico que costumam aplicar a pessoas com esse tipo de sintoma: autoboicote.
Dá até arrepio, não é mesmo?
Pois, olhe, dona presidenta, posso lhe assegurar >>> é fato, sim senhora. Pessoas há nesta nossa fantástica porém ainda surpreendente raça humana que não toleram o sucesso pessoal. (No caso em pauta, parece que não suportam o sucesso de quem quer que seja.)
Dizem até mesmo que os maluquinhos mais radicais perpetram a insanidade de atingir os píncaros da glória só para poderem experenciar o imenso barato da queda lá das alturas...
É duro imaginar que o heroico ex-presidente que logrou eliminar a inflação, sanar o sistema financeiro, colocar prefeitos e governadores sob o jugo da Lei da Responsabilidade Fiscal, implantar o Plano Real, afugentar parasitas como Sarney, Collor, Barbalho, Malluf e tantos outros mais para bem longe das saqueadas tetas do governo e inúmeras outras façanhas esteja hoje passando por tão mórbido processo de autoflagelação.
Pois presidenta, pegue o caso do mensallão, por exemplo. O homem na ocasião tinha a faca e o queijo entre os dedos, se me permite uma colocação absolutamente original. Precisava ter se metido com figuras angelicais como Waldomiro, Bob Jefferson, Valdemar e tantos outros personagens do submundo político? Obviamente, não. Salvo se ele mesmo sentiu aquela comichãozinha de peitar os poderes constituídos tão típica dos adolescentes... e dos velhacos.
Ui, que me arrepio de novo.
Será? O sacrossanto líder predestinado a romper judiciosa mas impiedosamente com a ordem estabelecida das coisas?
Não. O que nós que não nascemos para glorificar totens estamos fazendo não é desconstruir o homem Lula e sim tentar rasgar essa fantasia que os adoradores de mitologias políticas teceram em torno dele.
Essa ficção, sim, requer uma atitude de nós brasileiros honestos e lutadores. Não podemos permitir que a impostura passe por verdade indefinidamente, botando conceitos, crenças e valores de ponta-cabeça, instalando a fraude no gabinete da Presidência da República, fazendo do nosso país um medonho conto-de-fadas povoado de quimeras e entes utópicos. 
O mito Lula tem, sim, de morrer. Quanto antes, melhor. 
E que morram com ele todas as alucinações que o homem Lula e seu exército de mitômanos vêm criando desde quando pisaram pela primeira vez no Palácio do Planalto para, ao invés de enfrentar os problemas reais que flagelam o Brasil há séculos, se especializarem no fabrico e na venda de ilusões. Mal sabíamos que naquele dia longínquo de 2003, num vilarejo do Piauí, o lançamento do Fome-Zero já prenunciava uma sucessão de factoides grotescos que ao longo do tempo viriam a formar não uma administração federal, mas um circo em que nós brasileiros sérios estamos servindo de palhaços renitentes.
O que a sra. Dilma e os lulopetistas em geral esperavam era, no mínimo, nossa conivência com a brincadeira desse nefasto faz-de-conta. O tom choroso com que reclamam da nossa recusa em entrar no jogo revela que ficaram decepcionados. Parece que nos acham uns mimados, uns estraga-prazeres frescos e antipáticos esnobes demais para cair matando no bloco dos foliões.
Por isso querem nos achincalhar usando o mais ofensivo apodo em voga no país: DIREITISTAS! E se põem a remedar o achincalhe com tamanha insistência, que o chiste tomou o lugar do discurso político lulopetista. Eles não têm programa. (Nunca tiveram, hoje é fácil constatar.) Seu único recurso são bordões mercadológicos que vão repetindo a torto e direito em todos os meios possíveis, contando que a repetição desmedida convença os incautos.
Até aqui, têm conseguido.
O que hoje chamamos de "governo Lula" é uma obra de ficção engendrada pelo mercadólogo João Santana e sua trupe de embusteiros. É espantoso constatar como uma campanha de marketing benfeita, agressiva, despudorada no abuso da tapeação pode surtir bons resultados. Mais que espantoso, estarrecedor.
E a presidenta que ora se queixa da malvadez da oposição em atacar o mito parece que vai indo pelo mesmo caminho.
A promessa que bradou em rede nacional de televisão de baratear as contas de luz dos brasileiros em tudo cheira às digitais dos dedões gordurosos do marketeiro Santana. 
A desfaçatez, a inconsequência, o cinismo, a irresponsabilidade quanto à saúde financeira das empresas envolvidas, o autoritarismo da decisão que exigiria exaustivas discussões das partes mais foi tomada de forma despótica e unilateral, o descompromisso em relação aos prejuízos futuros, o imediatismo com olho nas pesquisas de opinião, a demagogia sem-vergonha própria dos tiranetes, o populismo rasteiro, o maquiavelismo de encostar a oposição na parede, os ingredientes estão todos lá. A receita parece pronta para ir ao forno e em breve teremos mais um formidável factoide destinado a sustentar a popularidade de dona Dilma pelo menos até 2014. Em benefício da mitologia, tudo. Da verdade, nada. Aparentemente a presidenta vem tomando lições de seu mercadólogo sobre como desviar a atenção do distinto público das coisas que de fato interessam. Desenvolver um mínimo de competência para melhorar seu desempenho administrativo, bem, isso é absolutamente secundário. Eis que um mágico vai saindo do palco para a entrada de outro.
Como disse acima, o homem Lula está devidamente destroçado. Durante seus oito anos de incúria e desmandos no poder, ele mesmo cuidou para se autoesfrangalhar em grande estilo. Desse ponto de vista, é outra vez espantoso que seus áulicos esperem o concurso dos que não pactuamos com a tramoia. 
Igualmente extraordinária é a solidez com que o mito Lula se solidificou. Pois, passados mensalão, cuecas, roses, dossiês, aloprados, francenildos e outros incontáveis crimes e vexames, o totem ainda resiste relativamente incólume. 
Não por muito tempo. Já apresenta sinais de decadência. Podem-se ver algumas lascadas e fissuras. E nos últimos tempos deu de pender para os lados. Ocasionalmente parece trôpego. (Mas, em todas as vezes, nauseante.)
A situação em que estamos neste momento é: o papel que nos cabe a nós brasileiros lutadores e honestos é desmascarar os mistificadores. A verdade não comporta nem tolera fantasias.