Solidão política


Os lullomensalleros nos deixam falando sozinhos. Rachar a lenha em cima do lombo deles numa cacetada de blogues por aí já não dá ibope. Aos poucos os antilullomensalleros vão perdendo o pique. Principalmente os provocadores profissionais.

Sendo, como todos sabem, um rapaz dado ao dramático, vou optar por manter o tom algumas oitavas acima do que os delicados tímpanos dos brasileiros estão acostumados. Me amarro em emoções fortes. Dizem as pesquisas que o brasileiro médio não curte acusações, bate-boca e trica e futrica, como tão deliciosamente nosso Timoneiro-Metalúrgico gosta de dizer. A esta altura está comprovado que o brasileiro médio é um retardado doente com os pés nas nuvens e a cabeça num buraco. Ao contrário do que a oposição cria, Lulla do Mensallão parece forte e sacudido nas pesquisas. São tristes deste povo os destinos.

Fanáticos confusamente maniqueístas me chamam de tucano porque não me ajoelho compungido diante do grande tótem pai do ronaldinho ex-monitor do zoo. Adoro tirar uma da cara deles. Sempre que puder, fa-lo-ei sôfrego e encantado.

Depois de todos esses anos de balbúrdia e bacanal com o nosso pobre dinheirinho, estou embasbacado com a perseverança radical dos lullomensalleros. A disciplina, o senso de missão com que eles repetem roboticamente disparates endoidecidos são dignos dos capachos de Stálin. Provavelmente envolve uma necessidade visceral da figura paterna desesperadamente oca. Os lullomensalleros, ao invés de dialogar, emitem bordões. Sempre, catatonicamente os mesmos. Não importa o argumento que você apresente, mesmo que embasado na lógica e na verdade, eles mumunham suas palavras de ordem com o automatismo das máquinas de tickets dos estacionamentos. Sem alterar o tom manso da voz, contraargumentam com o ramerrão do golpismo. Ao invés de falar, oram. Em suas confusas e aéticas cabecinhas, se acham imbuídos da Grande Missão de Eliminar a Canalha Tucana e Seu Projeto Liberal. O curioso é que Lulla do Mensallão odeia FHC ao mesmo tempo em que parece idolatrar Vargas e Juscelino. Mas não são todos da mesma laia? Lulla do Mensallão cai de amores por Vargas e Juscelino porque estes já eram. Morto você pode elogiar e vilipendiar à vontade. Lulla do Mensallão exige reconhecimento do que chama tão tolamente de elite. Ele é quem deveria ser o primeiro a dizer obrigado a FHC por lhe ter entregue o país razoavelmente estável. A ingratidão do rapaz só demonstra que medíocres também são capazes de fazer sucesso. Tem coisa nesta vida que é dura de entender. Quanto a FHC, até admito, o cara tentou curtir um mandato mais ameno depois de dominar o dragão. Teve azar, pauvre. Se tivesse largado o osso no primeiro mandato, sairia de Brasília para a história como o Grande Redentor. No segundo mandato seus planos não saíram como o esperado. Lulla do Mensallão foi desastroso no primeiro e muito pior no segundo. E pra variar quem segura a onda são as classes médias, eternamente esperançosas de atingir os risonhos lindos campos mas morrendo nos guichês da Receita.

Sob aparente dissabor, os lullomensalleros aos poucos foram deixando para trás o vermelho-lênin de sangue, o mundo encantado dos símbolos marxistas, a ladainha do socialismo utópico (como se todo socialismo não o fosse), trocando a xaropada revolucionária e seu doloroso tom de dejavu por um perfil mais afinado com a modernidade. Só um ou outro ainda teima em carregar nos ombros o cadáver de Stálin que vem em decomposição acelerada há séculos, acompanhando cegamente o enterro da luta de classes. No lullomensallismo moderno não há mais órfãos. Hoje acham-se todos abrigados no generoso colo do paizão versão light do salvador dos oprimidos, devidamente protegidos em seus empregões no funci0nalismo com avantajados salários. O perigo do lullomensallismo persiste, porém. Muitos desses cabras continuam missionários, imbuídos da missão de defender o governo popular. Para isso martelam infindavelmente sempre as mesmas palermices falaciosas. Pobrezitos dos indigentes lá debaixo. Se soubessem as atrocidades que foram cometidas em nome do povo expulsariam os lullomensalleros a pedradas. Pra variar a impotência da democracia para enquadrar safados é que permite a esbórnia dos que estão no poder. 

Estamos a milhões de milhas dum drive industrializador que possa trazer modernidade ao país e esperança de vida digna ao povão. E parece que só poucos estão a fim de pegar no batente. O brasileiro médio se borra nas calças quando ouve falar em trabalho. Por isso os partidos formigam de maluquetes à lá Tiririca, Heloísa Helena, Maluf, Marta, Russomanno et caterva. Sem falar nos órfãos da caserna, gente que prega golpe militar, que sentiu regozijo com o massacre dos 111 no Carandiru e cujo fim trágico não poderia ter sido outro, obviamente, há casos em que a fatalidade dos ditos populares não falha, gente que defende tortura de bandido, tem esquizóide para todos os gostos.

O PSDB seria o menos ruim. Mas a moleza que esses caras têm dado aos perpetradores da atual barafunda política dá bem a medida de sua pusilanimidade. Os tucanos no governo amenizariam um tico a tragédia lullomensallera mas teriam pouca autonomia de vôo. Rapidinho voltariam a virar paçoca na mãos dos trogloditas do Congresso. De novo, a democracia e suas limitações. Os tucanos deviam ter avançado muito mais quando tiveram a faca e o queijo etc. E ainda deram de mão beijada o caminho das pedras ao inimigo - Lulla do Mensallão e seu grão-vizir não hesitaram em radicalizar em sua tentativa de golpe soft. Se fossem de fato inteligentes e menos mercuriais, provavelmente teriam conseguido.  As pequenas falcatruas aplicadas pelos tucanos no governo viraram traque ante o golpe que Lulla do Mensallão tentou por baixo do pano no Congresso para minar a democracia, desestabilizar as instituições e se entronizar ad eternum no palácio. Lulla do Mensallão e o que o procurador geral da República qualificou de quadrilha provaram que não teriam pejo em suprimir as garantias democráticas até obter poder político absoluto. Não estavam brincando. O Berção escapou por um triz. Não fosse o azar daquele filminho de Veja e Jefferson dar nos dentes, estaríamos fadados a uma ditadura semi-camuflada, sob o comando dum ex-operário com apoio, ó céus, de banqueiros, feirantes, rentistas, sem-teto, grandes empresários, camponeses e comadres frequentadoras dos shoppings.

O que há de patético em Lulla do Mensallão esbraveando nos palanques contra a zelite não está no gibi. O peetê é o partido que mais fatura verbas de banqueiros. Se o populacho fosse capaz de algo, perguntaria por que banqueiros preferem Lulla do Mensallão a Serra.

Ninguém mais dá a mínima para os 25 anos de história que os lullomensalleros jogaram no lixo e que hoje dizem ser apenas delírio de saudosistas. Lulla do Mensallão esquece convenientemente os cinco lustros de promessas populistas e bravatas. No poder não cumpriu umazinha sequer. Traiu milhares de ex-companheiros que o ajudaram a atingir os píncaros. Hoje é chegado de sarneys, collors e barbalhos. Não recebe mais os ex-sindicalistas que esqueceu no ABC e que o protegeram das porradas da PM nos idos da década de 80 em São Bernardo. O típico traíra.

Não à toa, seus críticos mais autorizados e contundentes são ex-companheiros como o sociólogo César Benjamin, que infelizmente denunciou o antigo chefe mas não renunciou ao esquerdismo fantasioso. Benjamin foi amigo do peito do pai-patrão por muitos anos. Viu de perto o desvio de conduta do anjo rebelde que tirou a máscara mal pôs os pesões no palácio. Em entrevistas na imprensa Benjamin abriu com mestria a tampa do esgoto de mentiras e de hipocrisia que ora nos estarrece a nós homens e mulheres de boa vontade.

Quem era digno abandonou o barco. Gente valorosa como Hélio Bicudo deu no pé. Ficaram os ratos.

O peetê é uma fraude. Lullomensalleros zé-ninguém que sustentam o que o PGR chamou de quadrilha são uns coitados. Nós outros somos uns otários.