A situação que estamos vivendo neste momento tem um sabor
inédito de frescor e bolor.
Sensações dúbias. Vão variando ao longo do dia. Me
sinto ora radiante, ora acabrunhado.
Confiante, temeroso.
O amanhã promete ser libertador. O amanhã me parece lúgubre.
A perspectiva de vitória e a ameaça de derrota não param de
se amalgamar.
Vão formando sonhos. E pesadelos.
Cada um dos extremos parece estar tão próximo.
Não queria dramatizar — pois grande parte dos habitantes
deste país aprenderam a temer a importância do drama no eterno tuntuntum
carnavalesco em que vivem e não sabem mais imaginar uma existência que não seja
pura alegria —, mas estamos, mais uma vez, num momento histórico da tão pátria
pororoca vida-morte.
Quão simples é para mim olhar a Europa e ver que a
civilização europeia não teria se forjado sem as várias centenas de
carnificinas que ocorreram desde o nascimento do Império Romano.
Quão desoladamente simples é ver que da fratricida Guerra de
Secessão não poderia nascer senão um povo com a mais plena consciência de que
cada cidadão, por mais humilde, por mais modesto que seja, tem a obrigação
moral de cumprir a lei e exigir que a lei seja cumprida.
Como é duro acreditar em meus olhos quando leio que ainda
discutem se devemos julgar o maior de todos os bandidos deste País ou não.
Bandido que, embora o maior de todos, é tão pateticamente
pequeno. Vivesse em outras plagas, estaria neste instante a ferros sob uma reles condenação redigida a pena de ganso.
Se não o julgarmos, haveremos de fazer o que com todas as
nossas leis, nossos legisladores, nossos juízes?
Lamento patético este, você acha?
Então lhe aconselho:
Não receie, conheça a história humana, pois que não é outra
a sua própria.