Como todo ANTILULLOMALLUFERO esclarecido, não deixo de ler diariamente uma meia-dúzia de jornalistas de blogs dos maiores jornais brasileiros. Meus analistas econômicos preferidos são os do Estadão: Celso Ming, José Paulo Kupfer, Suely Caldas e Rolf Kuntz, que expõem diuturnamente diante dos meus sempre arregalados olhos todo o imenso extermínio moral e econômico que os lulopetistas estão a infligir ao meu pobre país. Também não perco, naturalmente, a analista de política Dora Kramer. Fora do Estadão, leio assídua, mas não caninamente, Reinaldo Azevedo. Tenho algumas reservas com relação a certas opiniões de Azevedo, mas nada que me impeça de admirar a consistência e a eloquência com que combate as atrocidades lulopetistas. Gente culta e inteligente é assim: sabe apreciar o que os outros têm de bom sem os esculhambar a lixo pelo que têm de ruim, tal como age a cafajestada lullomallufera, para quem só existe o lullismo e mais nada.
Os retrorreferidos à parte, praticamente não leio ninguém
para me informar sobre os novos desmandos de cada dia perpetrados pelos
lullomalluferos. Como já cansei de repetir em outros comentários, passo longe
daquele manual dos escoteiros mirins chamado Folha e seus comentaristas
anódinos e superficialmente desapaixonados e seus leitores que são obrigados a
recorrer a um tipo de novilíngua para poderem postar nos fóruns.
O pessoal que citei acima — e alguns poucos outros de que
não me lembro no momento — tira de letra a missão de dizer ao distinto público
como e por que a quadrilha que está no poder vem fazendo farofa do Brasil há
pelo menos dez anos. Por isso mesmo não tento competir com eles. E por duas
razões mais: primeiro porque sou menos dotado que eles em termos de
capacidade analítica; e a segunda, que decorre diretamente da primeira, porque não me sinto
confortável no papel de analista que pesa e sopesa friamente dados e fatos
objetivos. Sou mais de enxergar o mundo com este meu olhar idiossincrático de que
não consigo me afastar.
Ah, já ia me esquecendo. Há uma terceira razão — tenho essa
insopitável queda para o teatro, que quase sempre me leva a farejar a tragédia
nos dramas humanos.
Bom, já que estamos quase na véspera do Ano-novo, vou abrir
duma vez a quarta razão, que até hoje só aqueles que privam da minha intimidade
conhecem — sou o sujeito mais impressionável que existe.
TÃ-TÃ-TÃ-TÃ...!
(Que trilha melhor para tão melodramática introdução que a
Quinta do meu idolatrado Ludwig?)
Exatamente por ser impressionável, fico deveras
impressionado com as reações da nossa presidenta a qualquer contratempo que lhe surja pela frente. Dilma me lembra aquelas crianças mimadas que vivem num mundo ideal, tentando fechar os olhos para a realidade. As dificuldades naturais da vida a deixam extremamente decepcionada. Daí a subir pelas paredes e botar a culpa de tudo em todos à sua volta é um passo. Uma crítica parece ser capaz de lhe tirar o chão debaixo dos pés. Posso bem imaginar a careta de raiva que fez quando lhe informaram sobre aquele artigo da The Economist exigindo a cabeça do
nosso querido ministro Guido Mantega.
Porque, pombas, pensei, a moça é nada mais, nada menos que a
suprema mandatária deste nosso vasto país-continente e portanto tem ascendência
legítima sobre sua gigantesca população de 200 milhões de brasileiros. Como é
que tão todo-poderosa figura pode se mostrar assim vulnerável a um reles
comentário? Pobre menina Dilma, mesmo a mais inofensiva das críticas
parece que lhe esfrangalha a autoestima qual uma gigantesca bola de boliche a
derrubar todos os pinos num strike fulminante.
Fiquei desconfiado de que a autoestima da presidente não era
das mais fortes quando começaram a pipocar na imprensa aquelas histórias e
relatos dos seus chiliques e faniquitos no trato com os subordinados. Dizem que
Dilma tem o chamado "temperamento explosivo" que sobe facilmente à
tona quando ela se vê contrariada em suas expectativas. Obviamente, é um sinal
muito ruim. Primeiro, porque quem mais mereceria levar uma saraivada de
descomposturas seria, está na cara, seu antecessor, que lhe deixou uma série de
armadilhas pelo caminho, uma mais mortal que a outra. Segundo, porque pega mal
esse comportamento hostil e gratuito para cima de subalternos, pois, como está
novamente óbvio, demonstra um belo dum complexo de inferioridade.
E se há algo que salta aos olhos na personalidade da nossa
cara presidente é exatamente isso — seu profundo complexo de inferioridade. Ela
o revela em cada entrevista e em cada discurso de improviso. E o deixou claro
sobretudo na constrangedora grosseria com que se comportou como convidada à
posse do ministro Joaquim Barbosa na Presidência do STF.
Não exagero quando digo que sinto até pena da presidenta ao
assistir a essa reação desproporcionada a um artigo publicado numa revista lá
longe em outro hemisfério.
Tudo bem, não se trata duma publicaçãozinha à-toa e sim da
revista de maior prestígio do mundo. E a opinião econômica que reflete não se
compara à duma assembleia do Fórum São Paulo. Ou duma reunião de assentados dos
Sem-Terra. Ou dum bando de universitários vagabas órfãos stalinistas
eternamente a lamentar a queda do muro com um copo de cerveja na mão e os
barrigões intumescidos de cana encostados no balcão dum boteco da Vila
Madalena.
Nada disso: o artigo provavelmente representa o pensamento
da elite financeira do universo conhecido. São os bambambãs dando o ar de sua
nobiliárquica graça. Os cobrões. As misteriosas figuras sem nome nem rosto que
decidem os destinos de todos os países com dois ou três golpes duma
caneta-tinteiro de ouro maciço.
Não, não deve ser moleza segurar a onda. Nessas horas, fico
cá a imaginar, que tipo de curto-circuito deverá dar nas convicções da menina
Dilma? Não, peraí, não estou sendo frívolo, não. Pois tenho certeza de que dá,
sim. E adquiri tal certeza logo na primeira vez em que assisti a uma
manifestação espontânea da pobrezinha. Pude constatar a presença de cada um dos
sintomas de pane mental — a incapacidade de articular dois pensamentos em
sequência, o sumiço repentino de palavras ou mesmo sentenças inteiras, as
ideias que começam para nunca encontrar um fim e as que já encontram um fim
antes mesmo de começar à medida que se vão combinando num ritmo grotesco,
desajeitado, aleatório para formar as mais estrambóticas lucubrações, numa
constrangedora indiferença à obrigação de impor um sentido mínimo às frases,
como se a pobrezinha estivesse padecendo duma impossível constipação verborrágica,
até suscitar em nós constrangidos ouvintes a convicção de que nossa presidente
sofre da mais patente incapacidade de articular e usar as palavras.
Foi com o cérebro tomado de tais conjeturas aqui no meu
cantinho de quem não quer nem nunca quis mandar em nada nem em ninguém e não se
mete a dar uma de guru como certos articulistas por aí (não gosto de seguir e
não gosto que me sigam) que li um artigo de Suely Caldas publicado, por
coincidência, hoje no Estadão.
Segundo Caldas, a presidente não está a esquentar a cadeira
até a volta de Lula em 2014, ao contrário do que muitos imaginam. "Dilma
começou a se diferenciar do padrinho já no discurso de posse, ao avisar que não
iria tolerar a corrupção e o malfeito."
Para Caldas, prova da independência de Dilma foi a demissão
dos seis ministros corruptos herdados de Lula e a insubmissão ao
"troca-troca com partidos aliados".
Bem, tenho cá minhas dúvidas.
Dois anos já se passaram desde sua posse e a presidente
ainda não disparou (epa!) sinais inequívocos de que é a dona da bola. A
demissão dos seis ladrões incrustados no Ministério pareceu a mim e a todo
mundo incontornável — simplesmente não havia como fechar os olhos a tão vastas
vigarices no núcleo do poder. E, apesar do carnaval mercadológico criado em
torno da "grande faxineira", a degola dos trambiqueiros ficou deveras
incompleta ante a recusa de Dilma, em nome dum antigo vínculo afetivo envolvendo
amizade e militância em grupos políticos, em se livrar do "consultor"
Fernando Pimentel, flagrado em altas traficâncias de influência.
Nada muito fora do figurino, porém. Dilma se limitou a agir
como todo candidato que durante a campanha promete a tão sonhada viagem ao
paraíso só para dar uma grande banana aos seus eleitores depois de empossado.
Poucos se surpreenderam por haver ela colocado um relacionamento pessoal à
frente de suas responsabilidade como chefe de governo. Dada sua tibieza
política, não seria a primeira a quebrar a rotina da safadeza seguida por todo
político brasileiro desde que Cabral avistou o Monte Pascoal. E, ao menos desde
2003, todos sabemos que o PT é um partido mais igual que os outros no que diz
respeito à corrupção. E os corruptos petistas são tantos, que um a mais, um a
menos não irá alterar nossa percepção de que botamos no Planalto um bando de
quadrilheiros.
Passados dois anos de governo, ainda estamos esperando que a
presidente tome posse efetiva do cargo para o qual foi eleita. Que acabe com as
patéticas romarias que faz regularmente a São Paulo para consultar a voz do
Oráculo de São Bernardo. Que se decida duma vez por todas a enfrentar as
obrigações que lhe cabem. Já passou da hora de Dilma reivindicar
autonomia suficiente para tentar um voo solo em seu trono no Planalto. Que é
que ela teme, afinal? Sua administração não poderá ficar mais medíocre do que
já é, com ou sem a presença do sr. Lula da Silva como eminência que de parda
não tem nada. É insustentável a ingerência constante do ex-presidente no governo atual.
Para quem exige ser chamada de "presidenta" a fim de que se enfatize sua condição de mulher que está em pé de igualdade ao macho e
para quem empregou várias mulheres no Ministério visando a fazer marketing feminista, é inaceitável que se submeta à ascendência e à influência dum homem
que é um corpo estranho no governo. Ou será que Dilma manda apenas no fogão e
na tábua de passar do palácio?
Mas em seu artigo no Estadão Suely Caldas chama atenção para
uma incongruência no comportamento da nossa presidente que se revela ainda mais
gritante: as improváveis semelhanças entre o governo dela e o de, quem diria?
Ernesto Geisel.
É aqui que a mulher que se diz presidente do Brasil mais
parece a protagonista dum dramalhão da Globo.
Caldas enumera algumas características comuns aos dois
governos, o de Rousseff e o do general. Vistas assim em panorama, parece que encalhamos
em 1975:
"Intervenções miúdas do Estado na economia privada;
endividamento do governo; proteção à indústria (sobretudo a automobilística),
favorecida por tarifas de importação altas, desvalorização cambial e juros
subsidiados; e uso de bancos públicos e empresas estatais (caso da Petrobrás)
para controlar a inflação e estimular o consumo" (...)
Caldas prossegue em seu texto para explicar por que
"Tal modelo não foi capaz de estimular o investimento - nem em produção
nem em infraestrutura." Eu tomo outro atalho por aqui para expressar quão
perturbadoras me parecem tais semelhanças.
Fico pensando, será que Dilma se olha no espelho a cada
manhã antes de vestir seus modelitos vermelhos estilo Mao e fica pasma com o
próprio "destino"?
Porque, pombas, se alguma vez o destino determinou os rumos
duma vida, foi essa.
E será que passa pela cabeça da presidente que, se há alguém
neste mundo com a capacidade e as condições efetivas de botar suas ideias em
prática, esse alguém é ela?
Okay, ao longo do tempo mudamos, amadurecemos, vamos nos
dando conta de que não temos controle absoluto dos caminhos que tomamos, em
muitos casos acabamos em situações opostas àquelas que buscávamos na
adolescência e na juventude, e poucas coisas são mais humanas em nossa natureza
do que dar cabeçadas na vida.
Mas convenhamos. Repetir literalmente cada uma das políticas
econômicas implantadas pelo general que ela um dia arriscou a própria vida para
tirar do poder... Dio mio, como é que essa antinomia se reflete na prática
diária da presidente? Além dum fantasma absolutamente real chamado Lula da
Silva, se assombrará ela por outros abantesmas imaginários do passado?
Bem, isto posto, penso ser legítimo concluir que a dona que
hoje ocupa simultaneamente a posição de primeira mandatária e primeira-dama do
país provavelmente está no emprego errado. Como já disse em outra postagem, não
acho que seria o caso de Dilma ter recusado a hercúlea (opa!) tarefa de receber
o comando do país praticamente de mão-beijada. Eu não recusaria. Quando menos
fosse, para experimentar a alegriazinha de subir num palanque para ser
ovacionado por alguns milhares de coiós de língua de fora a babar pelo ídolo das multidões.
O que de fato espanta nessa história foi a ousadia com que Lula
brincou, ou ainda brinca, com uma nação inteira, se lixando para as
consequências do absoluto despreparo de sua discípula para desempenhar suas
funções.
Em outro artigo, brinquei com a possibilidade de Lula ter
seguido carreira na área da borracharia e de como suas atribuições seriam
desastrosas para o bairro onde instalasse seu negócio.
Seguindo o mesmo espírito galhofeiro, poderíamos pensar para
Dilma um outro emprego que melhor se adequasse aos seus talentos e às
suas habilidades.
Antes que vocês respondam, permitam que adiante minha
sugestão, pois que venho conjeturando sobre o tema há tempos.
Se pudesse, indicaria à nossa presidenta a administração
duma loja de 1,99.
Naturalmente, minha indicação não requer maiores
explicações. Assim como a administração duma loja de 1,99 não requer maiores
esforços, cálculos e confabulações.
Por exemplo, a quanto devo vender cada artigo de minha loja?
Resposta: a 1 real e 99 centavos.
Quanto devo pagar cada artigo de minha loja? Resposta: menos
de 1 real e 99 centavos.
Posso pagar mais de 1,99 cada artigo de minha loja?
Resposta: nem sonhar.
Que é que poderia ser mais mamão com açúcar que isso?
Se bem que, apenas a título de cautela, seria conveniente
que a administradora mantivesse os preceitos teóricos do Plano Real, caso
contrário o nome da sua lojinha em breve teria de passar para 10,99. Se contasse com a ajuda do indefectível Sarney, chegaria a 100,99 Pode-se
imaginar a bagunça que causaria nas outrora simples regras administrativas.
