O principal ministro do presidente,
ocupando uma sala próxima à da Presidência, planejou, articulou e implantou o
maior esquema contra a República Brasileira de todo o período democrático
recente. Tal tramoia se destinava a garantir ao presidente e ao seu partido e
seus correligionários maioria tranquila no Congresso Nacional. Na prática, o
que tal ministro e outros envolvidos pretendiam era comprar uma maioria nas
bancadas na Câmara e no Senado e assim impor a vontade do Executivo sem o
"incômodo" das negociações políticas que tipicamente caracterizam uma
democracia. Trocando em miúdos, tal ministro e seus apaniguados tentaram dar um
golpe contra o Estado brasileiro.
O presidente não viu nada.
Em setembro de 2006, a duas semanas das
eleições, a Polícia Federal prendeu dois sujeitos em um hotel de São Paulo.
Eram petistas, ou seja, pertenciam ao mesmo partido do presidente da
República. O que faziam eles no hotel? Estavam lá para comprar um dossiê. Tal
dossiê fora supostamente montado para atacar o candidato do PSDB ao governo de
São Paulo, José Serra.
Um dos sujeitos era Gedimar Passos, o
outro, Valdebran Padilha. Passos se apresentou como advogado do PT. Padilha
havia sido tesoureiro do mesmo partido anos antes. Em conjunto, ambos portavam
um milhão e setecentos mil reais. Essa dinheirama seria usada para a compra.
No curso das investigações, a PF levantou
que a trapaça fora preparada por alguns integrantes da campanha de Aloizio
Mercadante ao governo de São Paulo e figurões do círculo próximo do
presidente da República. O sr. Ricardo Berzoini, então presidente do PT, veio a público
alegar que "o partido sempre rejeitou a produção ilegal de dossiês".
Ao depor na PF, Gedimar testemunhou que
fora contratado pelo PT para encomendar a terceiros a confecção de documentos falsos para prejudicar a carreira política dos tucanos. Segundo Gedimar, seu interlocutor no partido era alguém de
nome "Froud ou Freud". Tratava-se de Freud Godoy, assessor especial
do presidente. Godoy negou envolvimento no ardil. Admitiu ter se encontrado com
Gedimar, mas "apenas para tratar de assuntos relativos à segurança do
comitê do presidente". No mesmo dia foi demitido pelo chefe.
Em depoimento à PF, Godoy mencionou outro
figurão do círculo íntimo do presidente. Ninguém mais, ninguém menos que o
próprio churrasqueiro do homem, Jorge Lorenzetti. Segundo Freud, Lorenzetti
seria o mentor do esquema. Poucos dias depois Lorenzetti se afastou da campanha
para retomar seu emprego regular no Banco do Estado de Santa Catarina, do qual
foi dispensando em seguida.
Digno de nota, e de surpresa, no imbróglio
foi o comportamento de delegados da Polícia Federal, que fizeram o possível e o impossível na tentativa de evitar que a fotografia do R$1,7 milhão encontrado com Gedimar Passos e
Valdebran Padilha vazasse na imprensa. Segundo porta-vozes da PF, a instituição
queria "evitar que a imagem influenciasse as eleições", entende?
Graças ao Estadão, porém, o público brasileiro pôde ver a fotografia dos
inúmeros pacotes de notas de real que seriam usados na aquisição do dossiê.
O PSDB e o DEM acusaram formalmente o PT e
o presidente de terem responsabilidade no caso, mas, em decisão unânime, o TSE os absolveu "por falta de provas". De quebra, inocentou o então
ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, o presidente nacional do PT, Ricardo
Berzoini, Valdebran Padilha, Gedimar Passos e o citado assessor da Presidência
Freud Godoy. Como se ainda fosse pouco, o STF acabou arquivando o
inquérito contra o então candidato Aloizio Mercadante, igualmente "por falta
de provas". Mercadante era o principal beneficiário do malogrado engodo. Um assessor dele, Hamilton Lacerda, foi flagrado no mesmo hotel carregando uma maleta abarrotada de verdinhasa.
Thomaz Bastos não viu nada. Ricardo Berzoini não viu lhufas. Mercadante não notou coisa alguma. E o presidente da República, tampouco conhecedor do que quer que fosse, se limitou a debochar dos trapalhões, apodando-os de "bando de aloprados".
Foi em 2004 que a srta. Rosemary Nóvoa de
Noronha começou a chefiar o escritório da Presidência da República em São
Paulo, instalado num andar do suntuoso edifício do Banco do Brasil na Avenida
Paulista.
As más línguas dizem que tal srta. era não
apenas protegida mas também mui amiga do presidente. Tanto que, no longo
período em que comandou o escritório da Presidência na capital paulista,
embarcou nada mais, nada menos que 28 vezes a bordo do faustoso Aerolula —
adquirido pelo presidente por módicos 60 milhões de dólares — em viagens
internacionais. Quem a convidava? Ninguém sabe. Como fazia para entrar na
aeronave? Ninguém viu. Seu nome não constava da lista de passageiros. Tudo que
se sabe é que a srta. Rose fazia questão de marcar presença nas excursões
presidenciais mundo afora sempre que a primeira-dama decidia ficar no país. Por
quê? É dúvida até hoje.
Sabe-se também que a distinta usava seu
alto cargo e seu "prestígio" junto ao "prê" para facilitar
a vida de parentes, amigos e chegados. A moça botou alguns comparsas em postos
importantes na administração pública brasileira. Alguns cidadãos ainda hoje se
perguntam se o presidente ajudou de alguma forma a amiguinha a atuar como
pistoleira federal.
Será?
Será?
O Tuminha, delegado de polícia e nada
mais, nada menos que ex-secretário nacional de Justiça do Brasil, acabou de
lançar um livro. Não, mais que livro, é uma bomba. Uma bomba lançada diretamente no colo
dum certo senhor conhecidíssimo de todos nós.
É um tijolaço de 500 páginas,
"pesado" o bastante para detonar a reputação — e a carreira de muito
bambambã que vive cantando de galo no terreiro. Fôssemos um país civilizado, a
macacada toda já estaria no xilindró.
No livro, Tuminha faz acusações salgadíssimas
contra o todo-poderoso ministro Gilberto Carvalho, ligando o homem direta e
inequivocamente ao assassinato do ex-prefeito Celso Daniel. Se a sra. Dilma
tivesse um pingo de vergonha na cara, Carvalho estaria no olho da rua há
tempos.
E tem mais. Para o ex-secretário, estamos
hoje sob um autêntico, um escandalosamente obsceno estado policial, com a
Polícia Federal "instrumentalizada" a serviço não do país mas do
partido que ora detém o poder.
O mais vergonhoso, o mais
ultrajante, o mais intrigante vem agora. Tuminha não se limita a peitar os
coadjuvantes. Em certo ponto do livro, pula direto na garganta do maioral.
Segundo o delegado-autor, aquele
presidente, adorado e idolatrado por meio mundo mais a lotação do Maracanã,
endeusado por ter livrado o Brasil e os brasileiros de todas as mazelas que nos
agoniam desde o Descobrimento, por ter enviado o primeiro conterrâneo ao espaço
sideral, por nos ter presenteado com a Copa, por ter resolvido a secular seca
nordestina desviando de seu curso, feito um colosso, o segundo maior rio brasileiro, por ter permitido à Petrobras galgar a posição de maior empresa
petrolífera do universo, por ter concluído a Transnordestina cinco anos antes
do prazo, por ter solucionado duma vez por todas nossa crônica insuficiência de
eletricidade, por ter implementado o saneamento básico em cada casebre, em cada
biboca, em cada muquifo desse brasilzão varonil afora, por ter erradicado o
analfabetismo em todas as regiões deste país-continente, por ter instalado a
primeira praia avançada do Atlântico no Planalto Central, por ter endireitado
as estradas que levam nossas commodities do Mato Grosso direto pra Pequim e por
ter operado incontáveis milagres mais, pois bem, aquele presidente, dizíamos, serviu à ditadura que fingia combater.
Que resposta deu ele às acusações levantadas pelo Tuminha?
Que resposta deu ele às acusações levantadas pelo Tuminha?
Pois é.
O "prê", sempre rodando o país de norte a sul a botar asneiras pela bocarra incansável, a usar os recursos públicos em causa própria para promover a grei de larápios sob seu comando, continua MUDINHO em relação às denúncias que em outras plagas derrubariam a Presidência, o Ministério, talvez o próprio regime.
O "prê", sempre rodando o país de norte a sul a botar asneiras pela bocarra incansável, a usar os recursos públicos em causa própria para promover a grei de larápios sob seu comando, continua MUDINHO em relação às denúncias que em outras plagas derrubariam a Presidência, o Ministério, talvez o próprio regime.
