Falando em isenção e imparcialidade

Me lembro direitinho de quando parei de assinar a Folha de São Paulo.
(Já escuto ao longe as imorredouras vozes da implicância que não me dão sossego >>> ih, lá vem o cara meter o sarrafo na FSP de novo. Pois é. Que culpa tenho eu se sou viciado nas melhores coisas da vida?)
Parei de assinar o Estadão e a Veja também (digo, não agora, agora não assino mais nada, faz tempo que cheguei à conclusão de que nenhum veículo de comunicação merece meu rico dinheirinho). Isso foi há tanto tempo, que os jornalistas dignos do nome ainda eram maioria nas redações.
Mas minha ruptura definitiva precisamente com Folha ficou mais vívida na memória porque era o jornal do meu coração, ai que dó. Fui assinante por umas duas décadas (do Estadão, idem), época e era do insubstituível Paulo Francis, e com o tempo aprendera a aceitar, embora de maus bofes, o raquitismo jornalístico, deliberado, dos Frias. Mas eis que o tutano do jornal foi minguando, minguando, até que puff! virou um desses gases que se desmancham no ar sem que você se dê o trabalho de notar. São tantos os mortos que vão ficando pelo caminho sem que a gente se dê conta, não é mesmo?
O que mais me irritava na Folha há vinte anos é o mesmo que me irrita hoje >>> a imparcialidade fingida.

A FSP sempre foi um jornal sem caráter. Ninguém (a cuja opinião eu dê importância, naturalmente) sabe dizer direito qual é a sua. Ao contrário de Veja e Estadão, que por uns tempos não tropeçavam hesitantes em defraldar bandeiras anti-esquerdistas em favor da economia de mercado — bandeiras que ora descem a meio-pau para que esses dois últimos bastiões da sanidade jornalística desabem miseravelmente na demagogia e no populismo. Bons tempos aqueles em que Estadão e Veja ainda desempenhavam a crucial função de ensinar aos brasileiros, que em sua maioria são adeptos do Pensamento Mágico, que 1) não há escapatória viável ao sistema capitalista, 2) sem liberdade não vale a pena, 3) o coletivismo imposto a ferro e fogo por tiranos desvairados sempre termina em necrotérios e cemitérios abarrotados.