Em 2011 numa rua do Rio um juiz
foi flagrado em infração por uma agente do trânsito. O sujeito dirigia seu Land
Rover desprovido de carteira de habilitação. Como se ainda pouco fosse, o jipão,
importado a peso de ouro, não tinha documentação nem placas de licença. A
fiscal, Luciana Tamburini, tentando cumprir seu dever, orientou o motorista do
guincho a serviço da prefeitura a recolher o carrão para um pátio municipal. O
juiz subiu pelos paredões do Pão de Açúcar. Ordenou a um tenente que desse voz
de prisão à agente. Ante a recusa do militar o homem ligou para a PM pedindo
uma viatura. Enquanto os policiais tentavam lhe colocar algemas, a fiscal Luciana
Tamburini comentou com eles que o homem era juiz mas não deus. Os PMs foram
correndo levar aos ouvidos do figurão as palavras da moça. O magistrado foi à
loucura. Queria levar Luciana presa de todo jeito. Nos dias seguintes a fiscal
abriu ação por danos morais contra o julgador. O processo foi parar nas mãos
dum desembargador, que, semana passada, emitiu uma sentença estarrecedora, para usarmos o vocabulário
popularizado por Dilma Rousseff durante os debates com Aécio: condenou a AGENTE
A PAGAR CINCO MIL REAIS AO JUIZ A TÍTULO DE DANOS MORAIS, fazendo constar de
seu julgamento que a moça zombara do magistrado e da “função que ele representa
para a sociedade”.
Em 2013 o jornalismo do SBT (pois é...)
levou ao ar reportagem denunciando vários médicos lotados num hospital estadual
do Rio de Janeiro. O flagrante logrado pelo jornalistas investigativos de Sílvio
Santos consistiu do seguinte: uns batutas que juraram a Hipócrates proteger a
vida sem olhar rosto nem conta bancária chegavam no início de seu expediente no
hospital, batiam ponto e meio minutos depois... vapt! se mandavam, puxavam o
carro, caíam fora, queimavam o chão e outras expressões congêneres em voga na
minha época que não sei se ainda se aplicam no conturbado mundo hodierno. Mundo
este tão, mas tão estranho, que talvez já seja normal um funcionário público
comparecer ao seu local de trabalho apenas para consignar sua presença e assim
garantir o pão-nosso-de-cada-dia sem ter de dar duro, suar a camisa, pegar no
batente. Ao todo a reportagem pegou no pulo nada menos que dez (uma dezena, quatro
mais seis, quinze menos cinco) cultores de Esculápio, aquele deus da
mitologia grega dotado da capacidade da cura e da ressurreição. Na lenda, Esculápio
era representado por uma serpente, que no século 20 foi adotada pela Organização
Mundial da Saúde com seu símbolo oficial e que a maioria dos doutores gosta de
estampar em seus cartões de visita e blocos de receituário.
Entre a dezena de operários da saúde que
faturavam salário sem trabalhar havia um que se destacava pela singularidade. O dr. Marcelo Amaral gosta de ser
chamado de O médico do povo. Segundo
o Ministério da Saúde, o dr. Amaral tinha treze (número do azar, número do PT) empregos
e trabalhava precisamente 119 horas por semana. Como se ainda pouco fosse, o
dr. Amaral é vereador. Pelo... bidu! PT. Imaginem vocês treze empregos. Ao sujeito,
de fato, não lhe sobra tempo senão para bater
ponto.
E não podemos deixar de chamar atenção
para outro aspecto gravíssimo desse episódio do hospital: pela enésima vez foi
a imprensa que foi atrás do fato e trouxe a sem-vergonhice a lume. A mesma
imprensa espezinhada dia e noite pelos totalitários que ora detêm o poder. Onde
estava a polícia, a PF, o Ministério Público enquanto os jornalistas levantavam
a podridão?
Esse tipo de assalto ao Erário ocorre o
tempo todo desde o século 19 (se você duvida, leia Triste fim de Policarpo Quaresma). Todo mundo e seu técnico de instalação
da NET está cansado de saber. Podíamos ficar aqui enumerando casos escabrosos
com o dinheiro dos que pagamos impostos até a égua parir um chimpanzé e nem
chegaríamos à metade.
Tenho um conhecido que dá aula de História
numa dessas trocentas Federais que Mr. Lula da Silva ergueu num passe de mágica
para – bidu – se autopromover.
Em meado do ano passado zanzava pelas
ruas de Sampa com minha cadela misto de chihuahua e dog alemão quando escutei
um psiu! às minhas costas. Eu e Zezeí estacamos no ato e demos meia-volta
incontinênti. Zezeí se pôs a abanar o rabo instantaneamente e saiu feito um
tiro rumo ao autor do psiu. Como sou (bem) mais lerdo, levei alguns segundos
para reconhecer o indivíduo. Sim, era o meu supramencionado amigo e professor de
História.
Mal se aproximou, ele me pegou pelo
braço, me puxando para perto dum muro. Então, girando o pescoço para os lados
como a certificar-se de que ninguém o seguia, fez, aos cochichos, uma narrativa
meio longa e embananada que resumirei para não tomar tempo demasiado dos meus
leitores.
Ele me relatou que mais da metade dos alunos
que frequentam seu curso não estão interessados em aprender História. Para meu
pasmo, contou mais: que é praticamente impossível reprovar um aluno, não
importa quão despreparado esteja o sujeito para receber a nota mínima de
qualificação. E não parava por aí: a estudantada nem sequer tem como objetivo dar aula
depois de deixar a universidade.
Mas que é que essa gente toda pretende,
afinal? perguntei com minha vozinha esganiçada de ente em perene estado de
perplexidade ante a estranheza do mundo.
Elevando meu pasmo para o estágio do
espanto, meu amigo historiador confidenciou que a maioria de seus alunos se
dispõe a encarar quatro anos nos bancos duma faculdade com o único propósito
de... bidu! prestar um concurso público.
E ainda não é tudo. Segundo meu amigo,
essa situação se repete em virtualmente todos os cursos de Humanas em sua
universidade.
Desnecessário acrescentar que esse meu
amigo se inclui no diminutíssimo grupo dos professores universitários que não são petistas.
Não tenho ideia de qual seria a proporção
de professores petistas empregados atualmente em universidades federais e
estaduais Brasilzão afora. Mas tenho certeza de que são a maioria esmagadora. (E,
naturalmente, não estão nem aí para a minoria esmagada que os sustenta e lhes
paga seus salários que são nababescos se comparados à média da população.) Não
sei quantos são mas não acho que estaria exagerando se dissesse que noventa por
cento dessa gente vota no PT.
Entre outras tantas prodigalidades que
cometeu com o chapéu alheio, Mr. Lula da Silva se notabilizou por criar sei lá
quantas centenas de milhares de cargos concursados pelo país. Foi abrindo
concursos do Chuí ao Oiapoque a torto e direito, provavelmente sem dedicar mais
de um pensamento à concreta necessidade dessa infinidade de novos empregos públicos.
Também duvido que cada um desses sei lá quantos concursos promovidos às centenas
tenha sido precedido d’um estudo técnico ou mesmo de sua viabilidade orçamentária.
Por essa e tantas outras farras com o
dinheiro que não é dele, o sr. Lula virou o herói inconteste dos “servidores” públicos
em geral. Sendo o rei dos espertalhaços, o Pai do Mensallão tratou de angariar
a simpatia dos barnabés logo de cara. Com isso garantiu a adesão – e, mais
importante, fidelidade canina – de alguns milhões de comparsas num lugar politicamente estratégico:
dentro da chamada máquina. Somem-se a
esses as dezenas de milhares de cargos comissionados aparelhados pelo PT nas
estatais e temos um gigantesco exército de ativistas dentro do Estado dispostos
a defender o partidão com unhas esmaltadas em salões da moda e dentes clareados
em consultórios chiquérrimos.
À medida que o chefão lullomallufero ia inaugurando
suas famigeradas universidades federais, se espalhavam pelo país relatos estarrecedores de cursos criados sem
currículo, sem professores e, pasme-se de novo, sem salas de aula. Nós que
temos uma gota de sensatez dentro da cachola nos entreolhávamos estupefatos,
nos perguntando a que ponto chegaria aquela sandice. Acima de tudo queríamos
saber por que o capo não investia onde a educação é mais carente: no nível básico.
E en passant comentávamos que as tais universidades de fancaria acabariam por
operar o milagre de formar universitários semi-letrados, seguramente caso único
no mundo.
Mas agora tudo está claro. Nos enganamos
os que acreditamos que tais universidades se destinavam a cumprir a função que
as universidades tradicionalmente cumprem pelo mundo. As nossas são diferentes.
Na verdade não se pode classificá-las sequer de instituições de ensino. São fábricas.
Fábricas de diplomas. Diplomas que serão utilizados única e exclusivamente para
que seu titular possa prestar um concurso.
E tem alguém por aí dando pelota? Claro
que não. Entrar para o parasitismo público está no sangue do brasileiro. Todo
mundo que conheço tá a fim de descolar uma boquinha no Estado. Tá tudo lá no Triste fim. Sabe como é, né
doutor? Salarião bão, aquele monte de benefícios, a bendita estabilidade, as
regalias, o prestígio social, carrão do ano, Disney nas férias, Las Vegas uma
vez ou outra...
Estado mínimo? Sai pra lá, sô!