Chororô dum classe-média outrora crente no valor do trabalho

Meus olhos estão me enganando? Tirem essa imagem do Operário Nababo e seu palacete alado da minha frente. Me salvem das garras dos demagogos e suas esmolas de 15 reais aos esfaimados! Clemência! Não quero mais trabalhar 16 horas por dia para pagar salários de paxás públicos que ganham 20 vezes mais que eu, com férias que não tenho, com décimos-sei-lá-quantos que não tenho, com benefícios que jamais sonhei ganhar. Não quero mais escutar juiz defender direitos adquiridos de gente que sequer bate cartão. Não quero mais ver o sorrisinho brando e confiante e infeccioso de políticos assegurando que nossa democracia está no rumo certo enquanto parentes e amigos à minha volta perdem o pouco que têm, marchando direto para o buraco.

Intelecas progressistas, onde estão que não respondem? Votamos no homem por vossa causa, caras. Vocês, sendo amigos do Proletário Nubívago, alardeavam ao céu e ao mundo que bastava tirar do poder a tucanagem folgazã e entronizar o lullopeetismo, que o fisco nos daria algum alívio, que poderíamos finalmente trabalhar. E agora, chapas, que é que faço? De onde vou tirar dinheiro para pagar mais impostos, mais CPMF, mais “contribuições”? Cem milhões para salvar a empresa do amigo do rei, que já estava falida. Bilhões para Cuba, outros para Pasadena e mais tantos para ditadores africanos. Senhor secretário da Receita, vossa excelência aceita sangue? O meu é O positivo. Fazendo uma forcinha, posso doar mais meio litro por dia.

E a cordura da imprensa, vai durar para sempre? Caros donos de jornais, analistas, articulistas, pensadores, explicadores dos mistérios políticos, quando pego meu jornal, em vez dos soníferos arrazoados cheios de ponderações e números de todos os dias, quero ver CHEGA! estampado em página inteira, negrito, tinta jornalística escorrendo cáustica e feroz. Quero que meu jornal ao menos tente refletir a indignação dos que nos tornamos escravos dos duendes brasilienses. Esse partido que ora ocupa o planalto dando sinais de que não quer sair dele tão já, nós o elegemos por nos ter prometido mudanças para melhor. Nossa paga é um tapa na cara diário, um de manhã, um à tarde, outro à noite. Queremos ligar a tevê e ver CHEGA! Queremos sair na rua e ouvir as pessoas bradar CHEGA! Queremos o Movimento dos Brasileiros pela Sensatez Já. Queremos trabalhar.

Esperávamos – com uma ponta de amargo conformismo, reconheço – que a providência divina, num ato misericordioso, faria desembarcar no horizonte do Brasil a solução que nos livraria do Presidente do Apagão, do Monarca Esquecido, do Chefe do Malan, do Campeão do Marasmo, do Craque da Paralisia, do Roto da Voz-Macia. Brasileiros, nem tudo está perdido, nos animamos. E veio o Salvador e o Salvador tomou posse e num segundo se tornou o Operário Deslumbrado, Patrão de Dilma Rousseff, Boquirroto Esfarrapado, Presidente dos Postes.

E a nação vai assistindo extasiada às diárias demonstrações de amadurecimento político do lullopeetismo que, em seu doloroso mas incontornável processo de depuração ideológica, finalmente começa a se desfazer dos atrasados e incompetentes para que seus mais autênticos quadros possam ascender. Haverá de chegar o dia em que o Mestre da Fisiologia, num rompante da lúcida coragem que lhe é peculiar, exclamará em rede nacional: “Chega de intermediários!” para em seguida anunciar que Nicolás Maduro passará a ocupar o gabinete mais importante do Palácio do Planalto.