Os petistas choramingavam na oposição, os petistas continuam choramingando no poder.
Esta é a prova de que um imenso, um doloroso sentimento de inveja é o que aglutina o partido.
O choramingo é típico do invejoso mórbido.
Todos somos invejosos, certo. A inveja, como se diz, faz parte. A inveja, se bem controlada e dirigida, atua a favor do freguês. Todos vemos em alguém algo que desejaríamos ter mas não temos. Segundo a doutora Melanie Klein, é uma das nossas mais poderosas pulsões primitivas, o que nos faz odiar o seio que nos alimenta. Segundo Freud, nos leva ao desejo de matar papai para ficar com mamãe.
Alguns, talentosos, usam isso como desculpa para obter o que querem. Herr Sigmund deu a isso o nome de sublimação. A cultura americana é movida a inveja. O capitalismo é movido a inveja. O "operário" - termo que o nativo digital não sabe o que significa e que cada vez mais ninguém vai querer saber - não busca a revolução. Busca exatamente, ou um pouco mais, quando possível, o que o vizinho dele conseguiu na vida. Em geral, um carrão, uma casinha aladrilhada com portas e janelas azuis, uma tevê 29" e uma mulher bonita e gostosa pra exibir no chópin e despertar a inveja alheia.
A inveja "boa" é fecunda. A mórbida, infecunda. É uma gigantesca diferença. A mórbida em geral acarreta o naufrágio do dono. Como se fora um barco fazendo água sob uma carga insuportável. As conseqüências da inveja mórbida são sempre trágicas. Destrói o invejoso. Se for descomunal, destrói o invejoso, o alvo da inveja, o invejado e todos que estiverem perto.
Vc pode perceber a inveja mórbida, a que faz mal, pelo choramingo. Certo, tem ocasiões na vida em que todos choramingamos em maior ou menor grau. Mas vc pode diagnosticar o choramingo mórbido pela irracionalidade, pelo despropósito. O choramingo mórbido é compulsivo, incoerente, brota feito pus duma ferida moral cuja existência o próprio invejoso se recusa a admitir.
Além de se lamuriar zonzamente, o invejoso mórbido não sabe bem o que quer. No mais das vezes se limita a olhar em volta tentando "fisgar" o que os outros querem. E passa a querer o mesmo por dedução, com base neste raciocínio, que para ele é absolutamente natural: "bem, se ele quer, então também quero a mesma coisa".
Querer só porque o outro quer. Putz, a dor permanente que isso causa não deve mole.
Todo invejoso mórbido é choramingão. O invejoso choramingão vive a se lamentar sem saber bem de quê. Esse estado neurótico deve ser bastante incômodo. No caso de lulla, mais que incômodo, é um mal-estar que salta aos olhos. Causa grande sofrimento ao homem. É patente.
Para o invejoso mórbido, tudo que ele acha que está errado - na vida, na política e, sobretudo, nos outros - é motivo para lamúrias.
É por isso que lulla e sua gangue vivem c'os olhos voltados para trás. É por isso que implantar um programa político -- se é que o havia -- perdeu o sentido para os petistas. Eles não estão minimamente preocupados com o País ou com o povão. Têm o olhar aprisionado sob a hipnose do passado, ao governo de FH. Suam sob a obsessão doentia de comparar - uma comparação igualmente compulsiva, circular, concêntrica qual um satélite incapaz de fugir da própria órbita, girando acorrentada e inerme e impotente em torno dos oito anos do mandato dos tucanos.
Em sua escravidão neurótica do passado tucano, os petistas mumunham incansavelmente números e mais números, cifras de todos os tipos, estatísticas a dar com o pau. Sem outra saída, eles pretendem usar a impessoalidade e a imparcialidade da aritmética para provar que são melhores. Em sua inocência cafajeste, fingem não saber que os números podem ser imparciais e definitivos internamente, mas não se cotejados a referências externas. Quando indagado ou questionado, o petista, em estado permanente de autodefesa, desanda a recitar dados estatísticos num mantra monocórdio e mecânico. O discurso petista, outrora iracundo, indignado, evangélico, apaixonado, típico de quem se diz ao lado dos injustiçados, hoje se resume a uma constrangedora declamação de mentiras numéricas.
Lulla é fascinado por FH. Não consegue tirar o homem da cabeça. Dá mostras de que dorme e acorda pensando nele. Martiriza-se. Não tolera a idéia de que o poder e as glórias de líder político e sindical não sejam suficientes para lhe garantir a deferência e o respeito com que FH é tratado no seio das "elites" intelectuais. Lulla, embora obviamente sagaz, habilidoso e inteligente, acha suas próprias habilidades chinfrins em comparação com as do ex-presidente. Não sabe bem por que, mas queria ter nascido em berço de ouro. Para ele, ter tido uma mãe que nasceu analfabeta, como ele mesmo confidenciou, é sinal de humilhante indigência. O enorme valor de ter nascido num casebre de chão batido, fugindo da fome e da seca, fazendo carreira bem-sucedida como líder sindical e finalmente chegando a presidente da república parece se esvair irrecorrivelmente diante de FH e seu brilho social e intelectual. Nas caretas de inveja doente em seus discursos em que procura imprimir o antigo tom indignado dos injustiçados, mas logra senão o tom frívolo dos mitômanos, não consegue dissimular a dor-de-cotovelo. Lulla assacando acusações contra as "elites" é patético além do descritível. Que haja quem lhe bata palmas para as palavras ocas que se lhe transbordam incontinentes da bocarra é dolorosamente desconfortável. Seus seguidores, primários que são, nada almejam que não um Führer a lhes abrasar os corações de esquerdistas sem pátria nem rumo. Os órfãos do socialismo precisam vitalmente dum pai-dos-pobres que não deixe morrer a chama nostálgica dos ideais do lumpemproletariado. A chama se apagou. Os coraçõezinhos estão frios. A claque é constituída de moribundos e cadáveres. Mas prossegue maquinalmente a ovacionar o espantalho que já não tem vida própria, boneco cujo papel se resume a uma simbologia pobre e tola. Como espantalho, não tem outra serventia senão postar-se imóvel e impotente no campo político, esperando que sua mera presença espante para longe os tucanos que pairam ameaçadores nos céus do Berção.
Se debatendo à deriva no mar de sua inveja mórbida, os petistas, que de repente perderam o discurso por não ter programa e a pose por não ter discurso viram-se forçados a macaquear o governo efeagalista. Mais do que terem perdido a pose, os petistas viram-se sem sua própria história. Hoje, vagam feitos fantasmas à procura dum corpo, personagens em busca dum autor. Desorientados, vestem qualquer carapuça que lhes dê um rosto, por desfigurado e irreconhecível que seja. A passividade abjeta e covarde com que todos -- todos eles, do pai-de-todos ao mais reles "militante" -- aceitaram as premissas lançadas pelos tucanos é mais uma dimensão que está além do poder das palavras. O mandato lulla não produziu sequer uma idéia original, ao menos uma que não tenham recebido de herança. E este é o indício mais claro e insofismável de que vivemos hoje sob os trejeitos enlouquecidos dum bando de invejosos mórbidos. Os petistas são herdeiros ingratos. Mesmo se refestelando com toda a riqueza que receberam do governo anterior, torcem o nariz, resmungam, cospem no prato em que estão comendo. Como bons invejosos que são. De grandes e heróicos combatentes que prometiam a revolução, lulla e sua troupe se contenta com macaquices e papagaiadas. De fanfarrões na oposição se converteram em lacaios dos banqueiros e rentistas que até ontem juravam de morte.
Como genuínos imitadores, os petistas não levam jeito sequer para roubar. Os episódios de malfeitoria ocorridos sob lulla foram sucessivas demonstrações de inépcia. De Waldomiro às caricaturescas encenações dos cães-de-guarda petistas nas recentes CPIs, a tacanhice deu o tom geral. Sempre tomados pelo espírito da macaquice, se aventuraram a imitar as raposas e os abutres que desde a Proclamação da República vêm pululando no cenário político nacional. Em sua busca cega por personificar o ente tucano, hoje exibem estranhas fantasias de ornitorrincos. Sorrateiros, atraíram a um cantinho escuro abutres feito Bob Jefferson e assemelhados e lhes propuseram uma sociedade que seria benéfica para todos, menos para o País. Ofereceram um trato: vocês ficam mais ricos do que já são, nós levantamos fundos para o nosso grande ideal, a revolução socialista. Durante as negociações os petistas, sempre movidos pela inveja mórbida, fecharam os olhos, deliberadamente ou não, para várias pistas que desde o início já indicavam que o conluio não poderia dar certo. Primeiro, não quiseram enxergar que abutres, ao contrário dos tucanos, não gostam de seres vivos, parasitas que se dedicam, desde tempos imemoriais, a deglutir a carniça. Segundo, não quiseram enxergar que lulla estava já fantasiado com elegantérrimos ternos Armani, que tão grotescamente enverga nos raivosos discursos em que acusa as "elites" de tramarem sua deposição, e agora nem um pouco disposto a abrir mão das infindáveis e faustosas regalias com que os poderosos se brindam a si mesmos.
De toda essa farsa, as cenas talvez mais divertidas e ao mesmo tempo patéticas foram oferecidas em São Paulo por marta suplicy, moça precocemente emancipada que há anos se rebelou contra a própria origem abastada para se dedicar à causa dos pobres. Dos nababescos CEUs ao ridículo túnel na Rebouças, que tão deploravelmente inundou sob o primeiro chuvisco caído em Sampa, suplicy ofereceu à nação uma festança de gafes e fiascos. Aconselhada pelo espertalhaço marketeiro dudda, baiano pitoresco e escorregadio que o judiciário brasileiro aparentemente renunciou a encarcerar, suplicy decidiu-se a imitar a política do rouba-mas-faz que desde ademar de barros tão robustas raízes vem deitando pelo Berção afora. E dado que até ontem dudda trabalhara para maluf, nada mais natural que este fosse visto como a nova persona a ser encarnada pela moça. Ato contínuo, dá-lhe obras suntuosas e desnecessárias, erguidas a torto e direito com o único fito de provocar ondas mercadológicas. Como daí em diante passaria a ser a marca do PT pelo País afora, todo ato e obra de marta não tinha outro intuito senão a visibilidade midiática. Com os CEUs, a prefeita, sendo a moça sofisticadamente emancipada que é, alegava que pobre também tem direito ao luxo. Enquanto os novos centros educativos atendiam a três por cento da população, as periferias da cidade continuavam sob as pragas da falta de planejamento, da falta de médicos e polícia, da ocupação caótica dos mananciais e outros percalços que tais.
A prefeita, embora surfando nas suaves ondas do marketing vazio, sabia que não podia dormir no ponto. Todo cuidado era pouco, pois em breve chegariam as novas eleições e seu oponente seria nada mais nada menos que o solerte e insidioso Serrão. O candidato tucano recém-saía da disputa presidencial, o que lhe tinha angariado a tão idolatrada visibilidade política e que, por isso mesmo, seria um osso duro de roer. Assim que se iniciaram as primeiras pesquisas de opinião, eis que o homem já despontava favorito, revolvendo os mais sensíveis temores dos petistas e açulando os brios da prefeita. Marta tinha tanto medo de Serrão, que passou grande parte da campanha chamando-o de vampiro, numa sintomática manifestação de projeção neurótica invejosa. Então marta lançou um olhar analítico sobre o quadro eleitoral que já se configurava. E o que viu? Viu que sua única saída seria tapar o nariz, chamar maluf pr'uma conversa e torcer para que ninguém notasse. Maluf, claro, como bom espécime dos abutres-raposas, não enjeitou o compadrio. Topou no ato. A se lamentar desse episódio é a falta de informações sobre o que marta teria oferecido a maluf por seu apoio contra Serrão. Nada vazou à imprensa. Só podemos conjeturar. Seja como for, já não tem importância -- marta, talvez por Deus ainda ser brasileiro, quebrou a cara com dudda, CEUs, túnel e tudo. Ufa.
Pode-se argumentar em favor de suplicy que ela sempre ostentou seus modelitos parisienses com mais propriedade e legitimidade que o grande guia. Quando a víamos entre os mal-arrumados habitantes das favelas paulistanas ou passeando ao lado de andrajosos e malcheirosos moradores de rua, sempre decidida a atrair as câmaras de tevê, poucos nos dávamos conta do ligeiro contraste entre a estica da prefeita e a miséria bangaladeshiana à sua volta. Nessas horas, ficava patente a intenção da moça: estava ali exercendo um papel didático. Vejam! ela parecia alardear. É possível ser esquerdista e chique ao mesmo tempo! Não é a luta pelos pobres que vai me impedir de ser feliz. Talvez tenha sido com base nesse mesmo raciocínio que ela deu um pé no modorrento senador eduardo imediatamente após ter usado o nome dele para se eleger chefe do executivo paulistano, em mais uma demonstração educativa de que hoje todos devemos ir em busca de nossa própria felicidade e não de princípios ultrapassados como lealdade e fidelidade.
Os estrategos do petismo não tardaram em verificar que o vazio deixado pela falta dum programa político-social logo saltaria à vista da nação esperançosa. Precisamos dar um jeito nisso, decidiu joe dirceu numa reunião conduzida algumas semanas antes das eleições, sem se importar muito com a opinião de lulla, se é que este tinha uma. Precisamos designar alguém para essa missão crítica. Os cardeais petistas que participavam da reunião se entreolharam, sem saber direito quem esse alguém poderia ser. Confabularam horas e horas, sopesando um a um os talentosos quadros políticos de que o partido dispunha. Era uma escolha difícil. Cada um deles -- genoíno, o próprio dirceu, mercadante, maria c. tavares, guido mantega -- cada um deles era suficientemente tarimbado para a tarefa. Qual indicar? Olharam para lulla, mas este continuou estranhamente aluado, copo entre os dedos, cantarolando alguma música caipira. É o dudda! sapecou repentinamente dirceu, dando um tremendo dum murro na mesa e tirando lulla de sua letargia nostálgica. Todos aplaudiram, abrindo sorrisos de satisfação e alívio. Alguns lamentavam, "pô, como é que eu não fui pensar nisso?"
Eleição no papo, o lançamento do famigerado programa fome-zero veio dar o tom do que seria o jeito lulla de governar. Zanzando na grossa poeira dum miserável município do sertão nordestino -- escolhido a dedo por ter uma população esquelética absolutamente desprovida de qualquer serviço do Estado --, a alta administração petista refestelava-se diante das lentes televisivas de todo o mundo, suavizando a sede atroz -- e que só faria agudizar daí em diante -- com água mineral fresca servida por prestimosos garçons trajando imaculados smokings brancos. Enquanto os maiorais petistas desfilavam de casebre em casebre sob o sol abrasador do sertão, expondo-se sem pejo aos jornalistas, os pobres moradores, por sob sua infelicidade sertaneja de vidas secas, assistiam perplexos ao show de marketing sem a mínima idéia do que se tratava.
Se o fome-zero foi um furo n'água ou não quase não vem ao caso. Se o bolsa-família lullista dá mais esmolas aos indigentes do que dava o bolsa-família de FH tampouco vem ao caso. Analisar esse tipo de programa assistencialista e diagnosticar seus erros e perigos flagrantes seria ocioso, supérfluo, tarefa que não me atrai nem um pouco. Os miseráveis, em sua depauperação extrema, vêem os 15 reais que lulla lhes dá como um maná. Em sua penúria, agora estão 15 vezes mais ricos. Quando ligam a tevê para assistir lulla em mais um dos seus desvairados discursos, batem palmas e riem, deliciados com a recém-adquirida condição de eleitos de Deus. Toda a verba que alimenta essa estultice é surrupiada às classes médias, claro. Banqueiros e rentistas seguem intocados e intocáveis.
A origem sindicalista de lulla e sua confraria de ex-sindicalistas está na base do que acontece hoje. Em grande parte do mundo, sindicalista se confunde com parasita. A Europa vive na rabeira econômica dos americanos porque permitiu que os sindicatos crescessem além do controle da nação. Não à toa, isso só não ocorre na Grã-Bretanha, onde os sindicatos foram aquietados à sua real importância no jogo produtivo. Não à toa, A Grã-Bretanha é o único país europeu-ocidental que não está à beira dum colapso em suas contas previdenciárias. Na França e na Alemanha, o tesouro vem sendo sistematicamente comido pelas benesses trabalhistas, hoje insustentáveis em qualquer lugar do mundo. Governantes alemães e franceses simplesmente não têm idéia de como resolver o imbróglio.
Os americanos levaram algumas décadas para conter a fúria sindicalista. Os unions americanos mal nasciam e já se transformavam em pequenas máfias. Eram os mais violentos do mundo. Teriam escapado à canga da lei não fosse a eficiência do FBI. A legislação trabalhista norte-americana garante ao trabalhador direitos básicos como bonificações e férias sem que isso redunde no desemprego daqueles que não têm emprego. No Berção ocorre exatamente o oposto. Quem está dentro usufrui de regalias equivalentes às dos países nórdicos; quem está fora é condenado à não-cidadania, absolutamente sem direito algum, forçado a enfrentar filas de dias sob sol e chuva para poder receber atendimento médico. Muitos não vivem o suficiente para receber, claro. Às vezes caem mortos ainda nas filas. Muitos sequer buscam esse serviço, pois não suportariam a humilhação de serem tratados feito gado, ou simplesmente sequer perderiam tempo. Quem se importa?
Lulla e seus apaniguados provavelmente trabalharam muito pouco em sua existência -- isto é, trabalho no sentido de produzir, mudar o estado das coisas, do mundo, intervir na realidade para se afastar cada vez mais das condições selvagens que tão facilmente as pessoas se habituam a aceitar como naturais. Esse sentido dificilmente percola a alma sindicalista. Por princípio, o sindicalista não tem a atribuição de trabalhar, mas a de vigiar. É o zelador dos direitos alheios. Instala-se em comissões de fábrica não para sujar as mãos de graxa, mas para assegurar que seus "cumpanheiros" recebam direitinho os privilégios que lhes garante a constituição doidivanas de 1988.
Foi com esse espírito que lulla e os lullistas chegaram ao Planalto. Talvez até pensem em trabalhar às vezes, mas não sabem como. Enxergam na nação uma fabriquinha de benesses, e estão a postos, de mãos abertas, olhar de rapina, esperando para colhê-las assim que saírem do forno. Dos 180 milhões de brasileiros, uns 30 milhões podem sentir-se mais ou menos protegidos pelo sistema securitário. Na doida aritmética petista-sindicalista, os outros 150 milhões receberão esmola dos que hoje são privilegiados. Petistas são adeptos do pensamento mágico. Não é preciso produzir a riqueza -- basta votar uma lei e abracadabra! ela está assegurada. Nos sindicatos, aprenderam que, sempre que cruzavam os braços, suas reivindicações eram atendidas pelos patrões. Com o tempo, esse costume formou um padrão, e do padrão desenvolveu-se um mecanismo, e daí passou a ser uma visão de mundo. A máxima de quem está no governo hoje é: cruze os braços e tudo se resolverá.
Por inveja, os petistas choramingões querem impedir que as CPIs resultem em punições porque as CPIs de FH não deram em nada. É o principal argumento que usam quando se lhes cobram uma atitude firme. A lógica é: se não se puniu antes, não se puna agora. Os contribuintes que assistem embasbacados às andanças de cuequeiros, valérios e delúbios carregados de maletas cheias de dólares que se lixem.
Se FH "engavetou" as CPIs, fez o que lhe cabia fazer sob as regras do jogo. Lulla bem que tentou mas, incompetente que é, bisonho, preguiçoso, sempre às voltas com sua necessidade patológica de provar que um semiletrado/retirante da tragédia nordestina pode superar o sinhozinho viajado e culto, deu c'os burros n'água.
Lulla atua intermitentemente, por lapsos, arranques e paradas. Tudo nele é deploravelmente esquisito. Nos palanques, nunca sabemos qual lulla está discursando. Imagino quão penoso deve ser tratar pessoalmente com o gajo. No dia-a-dia, provavelmente seu comportamento se alterna por uma gama de versões esquizóides.
Nas duas últimas décadas o mundo deu tamanha volta, que os petistas simplesmente não têm como incorporar as revisões que se fazem necessárias em suas posições políticas. Se há quinze anos, quando os tijolos do muro de Berlim já estavam inapelavelmente espalhados pelo chão, evidenciando o fim das ideologias que ancoraram as discussões filosóficas e políticas de mais da metade do século XX, sepultando sob eles o maniqueísmo esquerda/direita que se esfarelou no ar quando o castelo bolchevique da União Soviética desmoronou, os velhos ideiais socialistas já estavam mortos, suplicando que alguém tivesse a decência de enterrá-los, que dizer deles hoje?
Os petistas continuam a alimentar a velha antipatia por tudo que sopre dos EUA. Parece até que é possível. Parece até que um dia vai trazer algum proveito. Falam em direitos sindicais como se o emprego tal como o conhecemos não estivesse fadado a desaparecer, queiram eles ou não -- e isso ocorrerá muto breve. Defendem -- da boca para fora, mas defendem -- a reforma agrária como se a molecada que está chegando aí, os ditos nativos digitais, fosse cogitar por um só segundo a alternativa de mudarem para o campo e viver sob a cultura da subsistência, sob o que Marx chamou de idiotia do campo. Para que isso fosse possível, seria preciso proibir essa rapaziada de ter um único contato com o computador, a internet, as maravilhas da tecnologia, os milagres da conectividade, seria preciso isolá-los numa redoma, segregando-os das doces delícias tecnológicas que lhes reserva o futuro.
Não sei exatamente qual seria a opção à reforma agrária para tirar os milhões de miseráveis da pobreza absoluta em que vivem. Um começo talvez fosse o governo parar de assaltar as classes médias e dar um basta na farra dos banqueiros e rentistas. Outra alternativa seria elegermos um presidente com coragem para mexer no vespeiro do funcionalismo ineficiente e da máquina pública que devora a maior parte dos recursos do País com retorno pífio à população. Mas condenar os destituídos à desolação e solidão do campo não é. Podemos escolher entre o futuro tecnológico e o gueto. E lulla certamente não se mostrou o líder mais apropriado para nos levar rumo ao futuro que buscamos.
Com um discurso inflado de vento, lulla vem serelepe feito um saltimbanco para o debate da reeleição. Vem munido de números, números e mais números, disposto a embaralhar a vista dos perdidos que ainda acreditam -- ó céus que não me ouves -- nelle. Aparentemente não lhe passa pela cabeça quão triste é a figura dum ex-esquerdista embalado em terninhos de luxo, hoje grotesco marionete nas mãos das "elites", ontem jurando a cada segundo jamais tergiversar com os poderosos. Daria dois vinténs para saber o que ele pensa quando se olha no espelho. Provavelmente não se reconhece. Enxerga outro, um homem que já não existe depois de ter jogado no lixo o próprio passado como se fora um rol de promessas tolas, destinadas a entreter a platéia infanto-juvenil dum circo. Lulla é patético. E trágico.