A militância
LULLOMALLUFISTO-MENSALLERA vai flutuando pelos fóruns digitais em estado
DELEITOSO-ETÍLICO.
Pausa para um
cafezinho. E um cigarro.
(Gente, vocês
precisam ser mais tolerantes com caras imbuídos de sua missão como eu. Estou aqui para carcar
a bodurna de quina na testa dessa nova casta de nababos infames que tomaram de
assalto os palácios e vivem hoje a cuspir no piso de mármore e inscrever
pichações chulas nas paredes e emporcalhar os lavatórios e as privadas e os
refeitórios e saquear as despensas. Portanto, peço, sejam gentis. Mal saí da
casca do ovo. E, pelo que estou vendo cá fora, acho que vou voltar rapidinho.)
Me ocorreu uma
pausa porque pensei, caraca, que militância é essa, afinal? Palavrinha mais
esdrúxula, não é mesmo?
Me faz recordar
duns momentos estranhos que vivi ainda na facul onde fiz jornalismo, ali pelos
lados do Butantã. Quer dizer, “fiz” é força de expressão. Como já indiquei em
inúmeros textículos por aí, passei a maior parte do curso no Bate-pinga,
aprazível boteco situado pouco antes da entrada da USP, onde preferia me
recolher a tentar enfrentar a companhia dos barbudinhos imundos da Libelu,
Caminhando e Refazendo (caraca de novo, nunca entendi por que tanto gerúndio no
movimento estudantil). Falar, fui libelu, delícia dos tempos velhos de guerra.
A única “tendência” que me aceitava. Eu e um japa, o Mário. Marião, tu tá vivo
ainda? Manda um plá aí. Eu e o Mário éramos bakunistas, i.e., anarquistas. Aos
olhos dos fudidões engajados, ingênuos. E não é que éramos mesmo? Hoje vejo uma
porção de ex-coleguinhas de facul incrustados em jornais, revistas e tevês por
aí. A maioria fisgou um carguinho no governo e está feliz da vida rindo dos
velhos tempos de protestos contra os militares e o ex-cambau. Outro dia no site
da revista Época dei de cara com o Ivan, até deixei um comentariozinho detonando ele. Na época
da Eca, nosso melhor lance esportivo era tirar uma da cara do Ivan Martins.
Esse vai longe, ríamos. Num é que foi mesmo? Como é engraçada essa vida. E
aquela miríade de facções, que foi que deu aquela porcariada toda? Bidu. Cada
uma virou “tendência” do peetê. 1978,
todos nos butecos em torno da USP, passadas algumas décadas eis os nababescos
aí nas estatais, nas câmaras, no congresso. Noites infindas que se diluíam nos
papos doces em que demolíamos os quartéis para encarapitar o povo no poder,
devastadora catarse a amalgamar cachaça e sonho. Meu sonho prossegue, talvez
indiferente a mim. O sonho deles hoje se chama mensalão.
Militância é
isso. Quem é que está com os beições grudados nos tetões obscenos do governo?
Bidu. Você aí classe-média que não queria outra coisa da vida senão ter um
empreguinho e casar e ter filhos e constituir uma família, cara, você é que
está bancando a farra dos revolucionários. Eu mesmo tomei uma infinitude de
rabo-de-galo nas tuas costas.
ACORDA CLASSE
MÉDIA! E ARREGAÇA AS MANGAS E SE ATIRA À LUTA!
A militância
lullomaluffera vai flutuando nas nuvens garganteando com seu bafo de cachaça
ordinária que don lulleone elege o poste que lhe aprouver bastando para isso
botar pra quebrar numa campanha mercadológica arretada. Como me considero
relativamente bem-dotado intelectualmente, não vou negar. Defacto, o paizão
populo-golpista é o maior pau-d’água-propaganda do mundo. Não duvido que seja
(ah, que verdugo este vernáculo!) capaz de eleger até mesmo uma incompetente
como Dilma Rousseff para a Presidência da República. Ou, glup!, um atabalhoado
da estirpe do Vazador do ENEM para a prefeitura de Sampa. Sim. o garganta
profunda tem mesmo um gogó de ouro de cujas insondáveis profundezas garimpa as
mais fantasticamente magníficas pepitas.
Para a
militância caipira, eleger zeros-à-esquerda a cargos executivos de importância
capital para a nação brasileira é uma... VIRTUDE! A levar tal princípio à
última consequência, imagino que essa gente primitiva atingisse os píncaros do
gozo se o chefão um dia — afinal, em se tratando do sr. Lula da Silva, tudo
parece possível, cáspite! — emplacasse o aplicado Marcolla no comando do, digamos,
Itamaraty.
Outro pequeno
parênteses.
Como não me
interesso pelo tema PCC — pois me irrita ao nível da ascensão pelas paredes a
dramatização ao mesmo tempo pueril e macabra dos assassinatos tão
catarticamente encenada por pequenos jornalistas nascidos habituados à coleira,
em geral me levando a ficar deliberadamente alienado desse e de outros assuntos
que tais —, só recentemente tomei conhecimento de que Marcolla se diz leitor de
Nietzsche, Voltaire, Hugo e Dostoievski. Se comenta (à socapa?) que já leu mais
de três mil livros, marca que impressiona ainda mais em sendo ele quem é. Se
for mesmo verdade, vem de encontro à propalada versão de que nosso sistema
prisional não educa. Não só. Contrariando a já célebre carregada de tinta que o
sapientíssimo ministro da Justiça lascou a respeito, prova também que nossos
presídios nada têm de medievais. E, quando é verdadeiramente esforçado, o cabra,
sejam quais forem sua origem e vocação, é muito bem capaz de enterrar a vida
pregressa que levava extramuros para, usando uma palavrinha e uma sintaxe de
moda, focar em interesses mais nobres. E não será demais aproveitar o ensejo e
recomendar aos neófitos presidiários Joseph Dirceu, Joseph Genoíno, Joseph
Paulo Cunha e Delúbio Joseph que se mirem no exemplo do ateniense estudioso
Marcolla e doravante procurem seguir o caminho do bem. E queira Deus que,
quando finalmente chegar a hora de o chefão de todos chefões ir ver in situ com
quantas barras se faz a grade duma cela, consigam convencer o Exemplum Ignoramus que a leitura pode ser um bom passa-tempo em determinadas situações.
Mesmo para quem se vê lancetado de azia por ler duas ou três manchetinhas de
jornal.
Fechemos o outro
pequeno parênteses.
Fechemos tudo
duma vez.
Não vou mais
gastar meus neurônios com esses boçais. Não agora. Não esta noite.
Tenho, daqui a pouco, um encontro com o prazer.